os invisíveis da sociedade
Liliene Santana / Texto e Fotos
20.04.2013
Nas noites frias de quinta-feira, uma equipe de pessoas sai ao encontro de moradores de rua, levando alimento, roupas, apoio e palavras de Deus para que estes sejam confortados do estado precário físico e mental em que vivem. Não existe nenhuma denominação ou órgão público que esta a frente do Projeto Restaurando Vidas (PRV), porém apesar das dificuldades o grupo de voluntários se dispõe de tempo, dinheiro e muita atenção para ouvir cuidadosamente cada palavra dos “invisíveis da sociedade”.
Em uma conversa entre duas colegas de trabalho, Elaine Pinheiro e Rafaela Maia, é discutido o desejo que se tem no coração de poder ajudar o próximo realizando missões. Não havia nenhuma direção específica para iniciar o projeto. “Só era preciso começar o projeto, pois se fosse da vontade de Deus toda necessidade seria suprida”, revelaElaine .
E assim no dia 17 de julho de 2012 foi criado o PRV, recebendo doações de roupas e alimentos em grandes escala, provando que Deus estava à frente de todo trabalho desenvolvido a fim de acolher o semelhante.
A equipe do NPC Notícias acompanhou o dia desses guerreiros, e confesso que ficar acordada até a 01h da manhã não é para qualquer um.
Foram visitados vários pontos da cidade de Limeira e encontradas pessoas com lições de vida e histórias surpreendentes. No momento em que íamos seguindo em determinados locais onde normalmente os moradores de ruas costumam ficar, tivemos que mudar nosso trajeto para ajudar o ex-morador de rua, JC, que foi resgatado pela equipe PRV.
Estávamos em seis pessoas, três tiveram que ficar em frente da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Limeira (Santa Casa) para que o JC fosse levado a clinica onde está recebendo os devidos cuidados. O morador de rua, JC, (idade não revelada), veio do Rio de Janeiro desiludido da vida e sem família, foi encontrado sem ter forças para andar e resolveu receber a ajuda do PRV. Completou seis meses de internação e hoje trabalha como voluntário ajudando outros moradores a se recuperarem. “Estou aprendendo o significado de uma família e falo aos outros para aceitar ajuda”, diz em poucas palavras.
Ao voltarmos para buscar o restante da equipe, lá se encontrava Elaine conversando com o Sr. Heleno, que tem problemas com álcool, comentando acreditar fielmente que sua irmã havia ligado a um dos integrantes para ir buscá-lo. Logo em seguida, aproximou outro morador de rua da cidade de Rio Claro, um homem bem instruído de família bem estruturada financeiramente, com uma filha de 15 anos, mas não pode acompanhar seu desenvolvimento, pois se rendeu as drogas, e mais uma vez o crack é o vencedor. Saímos de lá e fomos pelas ruas afora cumprir com a jornada de alimentar os necessitados.
Quando estávamos em baixo da ponte, um carro de polícia se aproximou, pois ali acontecera um roubo. Ficamos com receio, pois não sabíamos com quem estávamos lidando, quem eram aqueles homens e mulheres que estavam morando debaixo da ponte, e o que eles carregavam escondido em suas roupas. Nem sempre essa boa vontade dos voluntários do PRV tem sucesso, alguns mendigos até saem da rua, são tratados e quando estão preparados para serem definitivamente livres tem uma recaída e não querem mais saber de tratamento.
A droga não tem classe social preferida, ela só é uma doença que mata aos poucos a sociedade e os usuários. É uma triste realidade, mas que vale a pena ajudar, não é fácil, mas quando um interno se recupera 100% é o incentivo para os membros da equipe Projeto Restaurando Vidas a continuar a trabalhar pelo próximo.
Alguns usuários pediram para irem para algum lugar onde eles podem ser curados desse vício, mas o grande problema é que nem sempre tem uma vaga para tratar quem deseja, e o pior é a situação quando o assunto é mulher, pois não existem vagas o suficiente em clínicas para mulheres.
Exemplo de vida…
Irei contar a história de um membro da equipe o Vitório*, 29. Nascido no Pará, aos seis anos de idade foi abandonado pela mãe junto com os seus irmãos e seu pai.
Enquanto o pai buscava o sustento da família trabalhando fora, Vitório foi crescendo até que encontrou nas drogas uma forma de fugir da realidade tão dura, usando maconha, cola, tíner, lança perfume e por ultimo o crack, “Quando você começa usar acha que tem controle, mas quando quer parar não consegue e ai vem os problemas. Você perde tudo, família, credibilidade, sofri demais, chorei muito pedindo ajuda para Deus, ninguém está nessa vida porque quer não, é muito sofrimento”, diz Vitório.
Aos 17 anos ao entrar em uma briga com gangues em sua cidade natal, ele levou um tiro e perdeu a perna esquerda. Casou teve uma linda filha… Mas em um final de semana usou 50 pedras de crack (equivalente a mil cigarros) e como resultado iniciou uma overdose. Ao chegar em sua residência foi se despedir de sua filha porque ele achava que a morte era certa.
O socorro veio rápido e ao ser levado para o hospital sua pequena princesa com apenas três anos de idade, orou a Deus pedindo para que o pai dela não morresse. Quando Vitório viu aquela pequena ajoelhada em seu leito, prometeu a Deus que seria a última vez que usaria aquela droga. E assim cumpriu com sua promessa, mas começou a vender o entorpecente. Em uma festa onde ele comercializava as drogas, teve uma briga entre os seguranças do local e outro traficante, na tentativa de fuga, trocaram tiros com os policiais e assim começou a perseguição.
O carro em que ele e outro comparsa estavam foi alvo de mais de 30 tiros, mas nenhum acertou o Vitório (tendo assim outra prova de que Deus era com ele). Quando eles pararam em uma rua sem saída no meio de um matagal, pensou agora sim é meu fim, mas um grupo de cristãos saiu do meio daquele mato e pediram misericórdia pela vida daqueles dois homens deitados no chão prestes a serem mortos.
Naquele dia, Vitório lembrou-se da promessa feita e resolveu sair da sua cidade e ir de encontro a grande oportunidade de vida, que conforme ele foi livramento de Deus. Hoje esse vitorioso homem, tem uma vida completamente restaurada e caminha testemunhando sua história com várias pessoas necessitadas. Mesmo sendo portador de necessidades especiais, Vitório pratica esporte como natação e já ganhou três medalhas em campeonatos e participante ativo do Projeto Restaurando Vidas.





